segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Amarrados ao púlpito

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2014/01/1393304-amarrados-ao-pulpito.shtml

05/01/2014 - 03h30

Amarrados ao púlpito


SÃO PAULO - O filósofo Daniel Dennett é frequentemente citado, ao lado de Richard Dawkins, Sam Harris e Christopher Hitchens, como um dos quatro cavaleiros do ateísmo, que ganharam a alcunha por terem lançado, entre 2004 e 2007, best-sellers com críticas à religião.
Os quatro livros são interessantes, mas nunca achei que Dennett se encaixasse bem na imagem. Enquanto Dawkins, Harris e Hitchens adotam um tom francamente militante, até panfletário, Dennett oferece uma obra muito mais nuançada.
Essa impressão foi reforçada agora com o lançamento de "Caught in The Pulpit: Leaving Belief Behind" (capturados no púlpito: deixando a crença para trás), em que Dennett e Linda LaScola lançam luzes sobre o problema dos pastores, padres, rabinos e outras lideranças religiosas que perdem a fé e se veem no dilema entre manter a integridade intelectual, o que implicaria renunciar a seus postos, ou ir torcendo as palavras e suas próprias crenças, para continuar exercendo suas funções e, assim, preservar casamentos, amizades, posição social e aposentadorias.
O livro surgiu a partir de um estudo modesto em que cinco clérigos que viviam esse processo foram entrevistados. A coisa logo evoluiu para um site onde ministros em vias de perder a fé podem trocar experiências sob anonimato e daí para a obra.
Além de boas histórias humanas, o texto de Dennett e LaScola mostra que a religiosidade vem nos mais diferentes formatos e sabores. Há desde os ultraliberais, para os quais a Bíblia é um conjunto de alegorias expostas em linguagem poética, que nunca devem ser tomadas pelo valor de face, até aqueles mais conservadores que afirmam que cada palavra das Escrituras deve ser interpretada literalmente. Como observou um dos entrevistados, nem todo religioso nega a evolução biológica. Esse abismo nas fileiras dos que creem é algo que a nova literatura sobre a religião muitas vezes deixa escapar.
hélio schwartsman
Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Uso do ACORDO com a SANTA SÉ

http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=110084


19/06/2013 - 07h36
DECISÃO
Pela primeira vez, STJ homologa anulação de casamento religioso decretada pelo Vaticano
O presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Felix Fischer, homologou sentença eclesiástica de anulação de casamento religioso, confirmada pelo Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, no Vaticano, com base no que prevê o acordo firmado entre o Brasil e a Santa Sé, relativo ao Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil (Decreto 7.107/10).

Este foi o primeiro pedido de homologação de sentença eclesiástica processado nos termos do estatuto.

O decreto estabelece que as decisões eclesiásticas confirmadas pelo órgão superior de controle da Santa Sé são consideradas sentenças estrangeiras, que têm valor legal no Brasil. Com a decisão do STJ, os ex-cônjuges passaram de casados para solteiros, uma vez que a homologação da sentença eclesiástica resultou também na anulação do casamento em termos civis.

Isso porque, segundo o artigo 12 do acordo Brasil-Vaticano, o casamento celebrado em conformidade com as leis canônicas, que também atender às exigências estabelecidas pelo direito brasileiro, produzirá efeitos civis.

Declaração de nulidade

O Código de Direito Canônico, promulgado em 1983, exige que a declaração de nulidade, para ser válida e dar direito a um novo casamento, seja dada por, pelo menos, dois tribunais diferentes. Então, se o primeiro tribunal aprovou a declaração de nulidade, dentro de 20 dias ele é obrigado a encaminhar todo o processo a um segundo tribunal. Depois do tribunal de segunda instância, cabe ao Vaticano confirmar a sentença.

Inicialmente, o marido pediu a anulação do casamento religioso ao Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Vitória, acusando a mulher de pedofilia. A sentença deferitória foi confirmada pelo Tribunal de Aparecida (SP) e, depois, pelo Vaticano.

Ao homologar a sentença estrangeira, o ministro Felix Fischer considerou que o pedido não ofende a soberania nacional, a ordem pública nem os bons costumes.

O número deste processo não é divulgado em razão de sigilo judicial

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Coordenadoria de Editoria e Imprensa
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quarta-feira, 20 de março de 2013

Santo Daime e posse de droga

http://www.ibadpp.com.br/882/trf1-tribunal-concede-liberdade-a-estrangeiro-preso-portando-erva-usada-pela-religiao-santo-daime

TRF1 – Tribunal concede liberdade a estrangeiro preso portando erva usada pela religião Santo Daime


14/03/13 15:05
Tribunal concede liberdade a estrangeiro preso portando erva usada pela religião Santo Daime
 Por unanimidade, a 3.ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região concedeu a liberdade a americano preso em flagrante durante fiscalização realizada pela Polícia Federal em embarcação, no porto de Tabatinga (AM). Na ocasião, foram encontrados em poder do estrangeiro um spray medicinal à base de cannabis, aproximadamente 60 gramas de cogumelos comestíveis e de uso culinário, além de 1.265 gramas de Ayahuasca, substância utilizada pela religião do Santo Daime.
O americano foi denunciado por suposta prática dos crimes de tráfico internacional de entorpecentes e desacato. Ao analisar a denúncia, o Juízo da Vara Única da Subseção Judiciária de Tabatinga (AM) avaliou que a quantidade de Ayahuasca encontrada em poder do estrangeiro é expressiva. Além disso, complementou, o autuado afirmou em seu interrogatório que se prepara para ser xamã da religião Santo Daime e que a Ayahuasca é para a realização de cerimônias em Manaus, “o que deixa evidente que a substância apreendida não era para consumo pessoal, mas que seria distribuída para outras pessoas”.
No pedido de habeas corpus feito a este Tribunal, a defesa do estrangeiro sustenta que ele tinha conhecimento da prática regular do Santo Daime, que utiliza bebida Ayahuasca feita a partir da erva amazônica em infusão com outro vegetal, de forma que, devido à proteção constitucional sobre as crenças e cultos religiosos, acreditou não haver restrição sobre o transporte da matéria-prima, sobretudo em se tratando de material que não contém substância alucinógena, “agindo em inevitável erro de proibição, por não deter conhecimento sobre a lei bras ileira, o que exclui a culpabilidade”.
Argumenta, ainda, que a prisão do paciente se fundamentou na aplicação da lei penal, “considerando a inexistência de vínculo entre o paciente e o Brasil, e na garantia da ordem pública, por ter supostamente desrespeitado os policiais que o abordaram”. A relatora, desembargadora federal Mônica Sifuentes, concordou com os argumentos trazidos pela defesa do estrangeiro. “Se o próprio órgão acusador reconheceu não haver substância proibida dentre as transportadas pelo paciente, e o Juízo impetrado, por ocasião da conversão da prisão em flagrante em preventiva, reconheceu que o spray contendo cannabis seria para uso medicinal, tenho que não há fundamento para o prosseguimento da ação penal”.
Nesse sentido, ressaltou a magistrada em seu voto, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD) tem admitido o uso religioso da Ayahuas ca. “Assim, tenho que não há como prosperar a ação penal quanto ao crime de tráfico, considerando a decisão do CONAD, que admite o uso da Ayahuasca para fins religiosos”.
Quanto ao delito de desacato, a relatora afirmou que o suposto crime teria ocorrido por ocasião da fiscalização, pelos policiais federais, no momento da abordagem quando teria desferido palavras ofensivas aos policiais. “Como não foi comprovado o dolo específico, eis que o paciente apenas teria expressado sua repulsa aos atos dos policiais de desarrumarem suas coisas, tenho que não merece prosperar a ação penal também pelo crime de desacato”. Com essas considerações, a Turma, nos termos do voto da relatora, concedeu a ordem de habeas corpus, a fim de determinar o trancamento da ação penal em trâmite na Subseção Judiciária de Tabatinga, bem como restituir a liberdade do paciente. JC 0079526-31.2012.4.01.0000/AM Data da decisão: 26/02/2013
Fonte: TRF1

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O Judiciário ainda não sabe lidar com a Religião, mas não me parece que a decisão tenha sido equivocada. Porém, a liberdade parece que foi concedida, principalmente, pelo fato da droga não estar listada entre as que são proibidas pela lei, e não em função de seu critério religioso. Um legalismo absurdo que foi coerente, dessa vez.

terça-feira, 19 de março de 2013

Igreja Maranata e Ministério Público do Espírito Santo

Eis os links:

1) http://www.genizahvirtual.com/2013/03/entrevista-com-o-promotor-do-caso.html


Entrevista com o promotor do caso Igreja Maranata revela fatos chocantes acerca da máfia do dízimo



Membros da Maranata no ES usam Bíblia para coação, diz promotor

Paulo Panaro informou que, após prisões, ameaças continuaram. Membros são investigados por estelionato, tráfico de influência e outros.





Os líderes da Igreja Maranata presos nesta terça-feira (12), em Vila Velha, na Grande Vitória, suspeitos de intimidarem testemunhas e autoridades, usavam a Bíblia como forma de coação. A afirmação foi dada pelos promotores de justiça do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) Paulo Panaro e Jerson Ramos, em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, na manhã desta quarta-feira (13). Além disso, Panaro também informou que, mesmo após as prisões, uma testemunha continuou sendo coagida e ameaçada.

Os quatro pastores presos nesta terça-feira, em uma operação conjunta entre o Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) e Polícia Federal, são apontados como agentes intelectuais que estariam interferindo no curso das investigações, ameaçando e intimidando testemunhas a mudarem seus depoimentos e até membros do Ministério Público e do Judiciário. A Igreja Cristã Maranata é investigada pelo MP-ES desde março de 2012, por crimes como estelionato, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, falsidade ideológica e desvio de erário.

O MP-ES deu mais detalhes de como aconteciam as coações, que utilizavam até a Bíblia. "Membros da Igreja Cristã Maranata estavam sendo coagidos pelos líderes da igreja. É uma instituição hierarquizada. O pastor por ser o líder tem a dominação de todo o seu rebanho, e o que ele diz deve ser realizado. Então, essa coação, diferente da normalidade, onde a coação é direta dizendo o que uma pessoa deve fazer ou deixar de fazer, ela é feita através do uso de uma interpretação manipulada da Bíblia", explicou o promotor Paulo Panaro.

Para o também promotor Jerson Ramos, trechos da escritura sagrada eram usados de maneira subliminar. "Distorciam a forma da mensagem, trazendo informações subliminares, que acuavam as pessoas, que ficavam subjugadas às pessoas que transmitem a mensagem. As pessoas ficaram apavoradas", esclareceu.

Algumas expressões utilizadas dentro da própria igreja também eram usadas como forma de coagir as pessoas. "O que se observa é o seguinte, dentro da instituição, a expressão 'caído' para eles é muito grave. Você ser um caído é gravíssimo, ser um excluído é gravíssimo. Eles excluíam as pessoas dentro da própria instituição, ela é relegada a segundo plano, como forma de coação, eles se sentiam caídos, excluídos", frisou Panaro.

Intimidações continuam

 O promotor Paulo Panaro também afirmou ter recebido uma denúncia na tarde desta terça-feira (12) dizendo que uma testemunha recebeu telefonemas ameaçadores, mesmo após as prisões. "Mesmo a Justiça tendo determinado a prisão dessas pessoas com a finalidade de fazer cessar essas coações, parece que a ação da Justiça não as intimidou. Ontem (terça-feira), cheguei ao meu gabinete e encontrei um documento assinado de uma das vítimas, falando que tão logo a imprensa veiculou a notícia das prisões, a pessoa recebeu três telefonemas ameaçadores. Diziam 'Fulano, você viu o que você fez?' Eu vim de longe para te pegar, vou só esperar a poeira baixar para você ver o que vai acontecer", revelou o promotor.

Segundo Panaro, a testemunha coagida nesta terça-feira (11) já vinha sofrendo ameaças. "Essa é uma testemunha que queriam que ela se retratasse, ela não se retratou e isso está acontecendo com ela. Vou investigar as ligações para detectar os proprietários das linhas e tomar as medidas cabíveis", concluiu.

Outro lado


Por meio de nota, a Igreja Cristã Maranata disse que jamais coagiu testemunhas ou ameaçou autoridades. Ainda informou que está processando judicialmente aqueles que estão acusando a instituição, de acordo com a lei. A Igreja acredita que todas as acusações e acontecimentos desta terça-feira, com a prisão dos pastores, foram pautadas no desejo de retaliação e perseguição.

A Igreja Maranata foi criada no Espírito Santo há 45 anos e conta com mais de 5 mil templos em todo o país. No último domingo (10), um evento realizado pela igreja reuniu mais de 100 mil pessoas em Vitória.
Leia Mais em: http://www.genizahvirtual.com/#ixzz2O0Yxp3Uq
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial Share Alike


2) http://blogs.odiario.com/inforgospel/2013/03/14/pastores-presos-da-igreja-maranata-usava-a-biblia-para-coagir-testemunhas-diz-promotores/


Pastores presos da Igreja Maranata usava a Bíblia para coagir testemunhas diz promotores

março 14, 2013 Por (nome do autor)  · 32 Comentários
Arquivado em: Informações Gerais 
Pastores da Igreja Cristã Maranata do ES presos segundo os promotores se deu por consequência que no decorrer das investigações que se depararam com testemunhas que queriam mudar testemunho, e levou a suspeita de que os pastores estavam intimidando em forma de coação, usando a Bíblia. Confira, assista, entenda e comente…
Os líderes da Igreja Maranata presos nesta terça-feira (12), em Vila Velha, na Grande Vitória, suspeitos de intimidarem testemunhas e autoridades, usavam a Bíblia como forma de coação. A afirmação foi dada pelos promotores de justiça do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) Paulo Panaro e Jerson Ramos(foto), em entrevista ao Bom Dia Espírito Santo, na manhã desta quarta-feira (13). Além disso, Panaro também informou que, mesmo após as prisões, uma testemunha continuou sendo coagida e ameaçada.
Os quatro pastores presos na operação do Ministério Público do Espírito Santo (MP-ES) e Polícia Federal, são apontados como agentes intelectuais que estariam interferindo no curso das investigações, ameaçando e intimidando testemunhas a mudarem seus depoimentos e até membros do Ministério Público e do Judiciário.
O MP-ES deu mais detalhes de como aconteciam as coações, que utilizavam até a Bíblia. “Membros da Igreja Cristã Maranata estavam sendo coagidos pelos líderes da igreja. É uma instituição hierarquizada. O pastor por ser o líder tem a dominação de todo o seu rebanho, e o que ele diz deve ser realizado. Então, essa coação, diferente da normalidade, onde a coação é direta dizendo o que uma pessoa deve fazer ou deixar de fazer, ela é feita através do uso de uma interpretação manipulada da Bíblia”, explicou o promotor Paulo Panaro.
Para o também promotor Jerson Ramos, trechos da escritura sagrada eram usados de maneira subliminar. “Distorciam a forma da mensagem, trazendo informações subliminares, que acuavam as pessoas, que ficavam subjugadas às pessoas que transmitem a mensagem. As pessoas ficaram apavoradas”, esclareceu.
Algumas expressões utilizadas dentro da própria igreja também eram usadas como forma de coagir as pessoas. “O que se observa é o seguinte, dentro da instituição, a expressão ‘caído’ para eles é muito grave. Você ser um caído é gravíssimo, ser um excluído é gravíssimo. Eles excluíam as pessoas dentro da própria instituição, ela é relegada a segundo plano, como forma de coação, eles se sentiam caídos, excluídos”, frisou Panaro.
Por meio de nota, a Igreja Cristã Maranata disse que jamais coagiu testemunhas ou ameaçou autoridades. Ainda informou que está processando judicialmente aqueles que estão acusando a instituição, de acordo com a lei. A Igreja acredita que todas as acusações e acontecimentos desta terça-feira, com a prisão dos pastores, foram pautadas no desejo de retaliação e perseguição.
Assista vídeo matéria da G1 ES/TVGazeta pelo repórter Roger Santana, com a entrevista dos promotores e comente…
post inforgospel.com.br – com informação G1 ES/TVGazeta – por:Leandro Nossa – 13/02/13
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Muito interessante a entrevista com o MPE do Espírito Santo.

Entre 5min e 6min há expressões interessantes sobre a atuação dos líderes da igreja. (E, para mim, de todas as igrejas).

sexta-feira, 15 de março de 2013

Igreja não é ONG

http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE92D08M20130314?pageNumber=2&virtualBrandChannel=0

uinta-feira, 14 de março de 2013 19:22 BRT
 
[-] Texto [+]
Por Crispian Balmer e Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO, 14 Mar (Reuters) - Em sua primeira missa pública, o papa Francisco pediu nesta quinta-feira à Igreja Católica para que se atenha às suas raízes do Evangelho e rejeite as tentações modernas, alertando que ela vai se tornar apenas mais uma entidade beneficente se abrir mão da sua verdadeira missão.
Numa homilia simples e profunda, o papa argentino definiu claramente um caminho moral para os 1,2 bilhão de seguidores da Igreja, que vive um momento de escândalos, intrigas e conflitos.
Falando aos cardeais entre os afrescos da capela Sistina, onde ele foi eleito em conclave na véspera, Jorge Bergoglio declarou que a Igreja deve ficar mais focada nos Evangelhos de Jesus Cristo.
"Podemos caminhar o quanto quisermos, podemos construir muitas coisas, mas se não proclamarmos Jesus Cristo, algo está errado. Vamos nos tornar uma ONG caridosa, e não uma Igreja que é a noiva de Cristo", disse ele, falando em italiano e sem anotações.
Primeiro pontífice não-europeu em 1.300 anos, Bergoglio sinaliza até agora que levará um novo estilo ao papado, favorecendo a humildade e a simplicidade em detrimento da pompa, grandiosidade e ambição entre seus principais dirigentes.
Enquanto seu antecessor, o papa Bento 16, fez sua primeira homilia em latim, apresentando uma ampla visão para a Igreja, Francisco adotou o tom de um pároco, focando a fé.
"Quando caminhamos sem a cruz, quando construímos sem a cruz e quando proclamamos Cristo sem a cruz, não somos discípulos do Senhor. Somos terrenos", declarou ele aos cardeais, que trajavam vestes douradas.
"Podemos ser bispos, padres, cardeais, papas, tudo isso, mas não somos discípulos do Senhor", acrescentou.
Antes, Francisco havia deixado discretamente o Vaticano para rezar por orientação em uma das maiores basílicas romanas, antes de passar por um albergue eclesiástico onde havia deixado suas bagagens antes de entrar no conclave, na terça-feira.
Conhecido pelos hábitos frugais, o novo papa fez questão de pagar a conta. "Ele estava preocupado em dar um bom exemplo sobre o que os padres e bispos devem fazer", disse um porta-voz do Vaticano.
O novo pontífice adiou por alguns dias a visita que pretende fazer ao papa emérito Bento 16 na residência pontifícia de Castel Gandolfo, ao sul de Roma. No mês passado, Bento 16 se tornou o primeiro papa a renunciar em quase 600 anos, alegando que, aos 85 anos, estava frágil demais para conduzir a Igreja em momentos tão desafiadores.
Francisco, de 76 anos, é mais velho do que muitos dos cardeais que eram citados como "papáveis" e sua idade foi uma das muitas grandes surpresas causadas por sua eleição no conclave. O Vaticano disse nesta quinta-feira que ele está "em muito boa forma", apesar de ter tido um pulmão parcialmente removido em uma cirurgia 50 anos atrás.
Bergoglio é o primeiro papa jesuíta, uma ordem tradicionalmente dedicada a servir ao papado, e o primeiro a assumir o nome Francisco, numa homenagem a Francisco de Assis, santo italiano do século 12 que pregava uma vida de simplicidade.
Nenhum vaticanista esperava a eleição do conservador cardeal argentino e nesta quinta-feira começaram a surgir alguns detalhes sobre essa surpresa.
O cardeal francês Jean-Pierre Ricard disse a jornalistas: "Estávamos procurando um papa que fosse espiritual, um pastor. Acho que com o cardeal Bergoglio temos esse tipo de pessoa. Ele é também um homem de grande caráter intelectual, que eu acredito ser também um homem de governança."
Ricard disse que Bergoglio causou boa impressão em seus 114 colegas eleitores pelas coisas que disse nas reuniões que antecederam ao conclave.
O cardeal austríaco Christoph Schoenborn afirmou que o argentino, embora não fosse citado como favorito, já era muito popular entre os colegas desde o começo, e que do contrário "não teria se tornado papa no quinto escrutínio".
(Reportagem adicional de Catherine Hornby, Antonio Denti, Naomi O'Leary, Tom Heneghan e Keith Weir)

quinta-feira, 14 de março de 2013

Pastor não é emprego é vocação.

13/03/2013-03h30
 

Deputado emprega pastores que só trabalham na igreja
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LEANDRO COLON
ENVIADO ESPECIAL A ORLÂNDIA (SP)

O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) emprega no gabinete cinco pastores de sua igreja evangélica que recebem salários da Câmara sem cumprir expediente em Brasília nem em seu escritório político em Orlândia (cidade natal dele, no interior de São Paulo, a 365 km da capital).
Há dois anos, a cúpula da Catedral do Avivamento, igreja fundada pelo deputado, ocupa cargos de assessoria parlamentar no gabinete de Feliciano, com salários que chegam a R$ 7.000.
Fux critica judicialização de eleição de pastor em comissão da Câmara
Pastor retira projetos polêmicos da pauta da Comissão de Direitos Humanos
PSC mantém pastor na presidência da Comissão de Direitos Humanos
Deputados questionam no STF eleição de Feliciano em comissão da Câmara
Os funcionários são os pastores Rafael Octávio, Joelson Tenório, André Luis de Oliveira, Roseli Octávio e Wellington de Oliveira. Eles dirigem a igreja nas cidades de Franca, Ribeirão Preto, São Joaquim da Barra e Orlândia, todas no interior paulista.
O regimento da Câmara diz que os assessores de confiança devem cumprir uma jornada de 40 horas semanais de trabalho legislativo.
A Folha visitou as cidades nos últimos dias e identificou que esses pastores têm a missão de comandar cada templo da igreja do deputado, recém-eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara em meio a protestos que o acusam de "racista" e "homofóbico".
Os pastores funcionários da Câmara celebram os cultos e cuidam da administração financeira das unidades. Não há trabalho legislativo por parte deles. O escritório político de Feliciano fica em Orlândia, num imóvel anexo à igreja --onde a reportagem esteve por duas vezes em horário de expediente, mas só encontrou portas trancadas.

O pastor Rafael Octávio, que dirige o templo em Franca, mora com a família a três quarteirões de lá, onde passa suas tardes e noites. Ontem de manhã, um funcionário disse que ele estava na aula de um curso de psicologia.

Em Ribeirão Preto, vivem dois "assessores parlamentares" do deputado: os pastores Joelson Tenório e Wellington de Oliveira. O primeiro é o chefe oficial da igreja local e presidente do PSC na cidade. O segundo dirige um programa de televisão do deputado e se apresenta como "assessor de comunicação".
Oliveira, conhecido como "pastor Wel", afirmou que é normal a nomeação dos pastores, mesmo que fiquem nos templos. "Qualquer pessoa que vai contratar o seu assessor parlamentar contrata gente próxima, amigos. Os pastores são amigos", disse.
Num primeiro momento, ele chegou a dizer que havia escritórios políticos nessas cidades. Depois, recuou: "Não tem escritório montado [em Franca], mas tem uma pessoa que recepciona, que é o pastor Rafael. Em Ribeirão, não tem porque a gente está remodelando o escritório".
Editoria de Arte/Folhapress
Já o pastor André Oliveira dirige a igreja em São Joaquim da Barra. Segundo vizinhos, ele passou a trancá-la depois dos protestos contra a escolha de Feliciano para a comissão da Câmara.
A pastora Roseli Octávio é mulher do vice-presidente da igreja, o pastor Valdeci. O casal dirige a unidade de Orlândia. Ontem, Roseli não estava na igreja nem no escritório político, que estava fechado. Uma filha dela, Marina Octávio, também é funcionária do gabinete da Câmara.

OUTRO LADO
A reportagem tenta ouvir o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) desde o começo da semana sobre a nomeação dos pastores para seu gabinete da Câmara e o trabalho legislativo exercido por eles.
Mas ele se negou a conversar com a Folha no templo da igreja de Ribeirão Preto na noite de segunda, onde esteve para celebrar um culto.
O pastor Wellington de Oliveira, funcionário da Câmara e que se apresenta como assessor de comunicação de Feliciano, respondeu naquela noite a algumas perguntas e informou que os demais pastores não estavam autorizados a dar entrevistas.
Ele disse inicialmente que os pastores tinham a função de recolher reivindicações. Ontem, ele não respondeu aos telefonemas.
A reportagem fez mais uma tentativa em Orlândia para ouvir a versão do deputado, mas seu escritório político estava trancado, sem funcionários. Apenas um office-boy chegou em uma moto e informou que não havia ninguém trabalhando.
Abordado no culto de segunda-feira, o pastor Joelson Tenório, de Ribeirão Preto, disse que, no cargo de assessor parlamentar, faz "trabalhos políticos" para o deputado Marco Feliciano.
Irritado com a presença da Folha no culto, Tenório ameaçou chamar a polícia caso a reportagem gravasse em vídeo o evento.
Procurados, os outros pastores não foram encontrados.

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http://noticias.gospelprime.com.br/pastor-profissao-vocacao-feliciano/

Pastor não é profissão, é vocação, diz Feliciano sobre empregados
Cinco pastores da igreja de Marco Feliciano recebem salário da Câmara
por Leiliane Roberta Lopes
Pastor não é profissão, é vocação, diz Feliciano sobre empregados
O deputado Marco Feliciano (PSC-SP) está “no olho do furacão”. Diariamente, jornais e sites têm procurado investigar sua vida atual e pregressa. Hoje, a Folha de São Paulo denunciou que cinco pastores de sua igreja, Catedral do Avivamento, recebem salários da Câmara. Eles foram contratados como “assessores”, mas não cumprem expediente nem Brasília nem em Orlândia, base política do pastor-deputado.
Oficialmente, assessores nomeados precisariam cumprir 40 horas semanais de trabalho legislativo. Seus salários que chegam a R$ 7.000. Segundo a Folha, os “funcionários fantasmas” são os pastores Rafael Octávio, Joelson Tenório, André Luis de Oliveira, Roseli Octávio e Wellington de Oliveira. Marina Octávio, filha da pastora Roseli, também é funcionária do gabinete da Câmara.
Segundo informações, os pastores lideram os trabalhos das Catedrais do Avivamento no interior paulista, em Franca, Ribeirão Preto, São Joaquim da Barra e Orlândia.
O pastor Wellington entende que é normal a nomeação dos pastores, mesmo que eles não trabalhem em Brasília. “Qualquer pessoa que vai contratar o seu assessor parlamentar contrata gente próxima, amigos. Os pastores são amigos”, justifica.
Marco Feliciano tem evitado conversar com a imprensa depois dos últimos acontecimentos, mas comentou o assunto na saída da sessão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que presidiu hoje pela primeira vez.
“Pastor não é profissão, é vocação, não recebem salário [na igreja] para isso. Eles trabalham pra mim, para o meu gabinete, levando os jovens para centros de recuperação, dando assistência social”, declarou. Porém quando questionado se os pastores desenvolvem trabalhos de assessoria legislativa, Feliciano não respondeu.

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As afirmações do pastor Marco Feliciano têm sido comumente contestadas, e não poderia deixar de ser mais esta: "Pastor não é profissão"

Definitivamente, não é 'bom' para aqueles que 'governam' igrejas (instituições, Pessoas Jurídicas de Direito Privado, definidas no Código Civil Brasileiro em artigo específico) que o pastor seja profissão.

Todavia, o que define uma profissão não é afirmação do pastor.
Tudo o que se faz rotineiramente para seu sustento pode ser considerado uma 'profissão'. Essa é uma definição do vernáculo através dos dicionários.
Ademais, profissão, é ato de professar, reconhecer publicamente, jurar (também, definição do Huais). E nada mais adequado do que pastor ser 'profissão', pois a essência do pastor deveria ser professar o que acredita.

Mas, quando dizemos 'profissão', não é difícil entender que se pretende dizer: 'empregado'.

Ora, nesse ponto, se equivoca, novamente, o pastor Marco Feliciano.

Para definição de 'empregado', também o pastor não tem poder de definir o que é ou não empregado (pelo menos, não está na comissão para esse propósito nem apresentou projeto de lei nesse sentido - embora já haja alguns em tramitação com esse objetivo).  Essa definição é pertinente à Legislação, em especial, à CLT.

E, nessa questão, o pastor, em suas atividades principal ou secundária, espiritual ou material, possui as características necessárias indicadas pela Legislação Pátria para ser considerado, sim, empregado da instituição religiosa que representa.

A própria preocupação do pastor em remunerar seus pastores quando a sua instituição não o faz já desconstrói suas afirmações.

Toda Organização Religiosa possui características de empregador e todo Trabalhador Religioso possui características de empregado.

Apesar do Judiciário não estar acostumado com julgamentos entre Igreja e Religiosos, estes tendem a aumentar, e a negativa de vínculo empregatício entre estes 'entes espirituais', espera-se, seja cada vez mais adequada à realidade que a Legislação não restringe.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Fé, Direito e Dignidade

Sítio do artigo

Fé, Direito e Dignidade
Por Guilherme Feliciano (*)
11 de maio de 2012
Causou controvérsia a decisão do TST no Recurso de Revista n. 19800-83.2008.5.01.0065, julgado no último dia 10 de fevereiro, mantendo a decisão do TRT/RJ que reconhecia vínculo de emprego entre um pastor e a Igreja Universal do Reino de Deus. À parte a justiça do caso concreto (que me exigiria o exame detido dos elementos probatórios dos autos), o julgado traz à baila um velho “tabu” dogmático do Direito do Trabalho, que ainda se repete insistentemente nas faculdades, sem a devida reflexão crítica. O dito “trabalho religioso” não pode configurar vínculo empregatício? A doutrina convencional sempre afirmou que não, basicamente pelo fato de que o trabalho religioso é gracioso ─ uma “missão” ─ e, logo, não subordinado e nem remunerado. Uma resposta dogmática, como dizíamos.
O fato, porém, é que a realidade é sempre mais inventiva e complexa que as teorias e os modelos. Mesmo entre as várias profissões de fé, há nuances que podem e devem ser consideradas pelo juiz, considerando as circunstâncias factuais concretas, os fins sociais da norma e os valores constitucionais em jogo. Em algumas organizações religiosas, o trabalho prestado é efetivamente gracioso, sem implicar em necessária contraprestação econômica. Em outras, no entanto, percebe-se uma genuína estrutura empresarial, com ganhos econômicos apreciáveis e regulares, prêmios vinculados a cumprimento de metas de arrecadação ou de comparência ao culto, carreiras autônomas (de obreiros a bispos ou apóstolos), planejamentos estratégicos (com técnicas e campanhas que se reproduzem uniformemente por todas as unidades) e até mesmo exportação de know-how (em modelos próximos aos das franquias).
E sequer sugiro aqui que se trate de um “desvirtuamento” das finalidades religiosas da instituição, porque, certo ou não, esse padrão tem se tornado relativamente comum no cenário brasileiro. A ser um desvirtuamento, outros aspectos haveriam de ser seriamente considerados (como, e.g., os relacionados ao instituto da imunidade tributária sobre templos e seus serviços). Independentemente disso, porém, a se apresentarem aquelas condições, ainda que lídimas para uma organização religiosa, os seus efeitos trabalhistas não poderão jamais ser desconsiderados em favor de respostas prontas. O ministro de confissão religiosa que sob tais condições prestar serviços habituais, em qualquer tipo de culto ou denominação, será iniludivelmente empregado, sob a regência da CLT, cabendo-lhe todos os direitos trabalhistas típicos: registro em CTPS, garantia do salário mínimo, horas extras, FGTS, férias etc. Afinal, somando-se a habitualidade aos elementos que defluem daquela descrição “empresarial”, ter-se-á precisamente a hipótese do artigo 3º da CLT: trabalho subordinado, oneroso, pessoal e não-eventual. Dispensa-se, a propósito, a própria exclusividade. Ademais, a Lei n. 9.608/98, que regula o trabalho voluntário no Brasil, sequer refere o trabalho religioso, que não está dentro de seus escopos promocionais.
As respostas formais, em Direito do Trabalho, geralmente conduzem a equívocos. Por isso, enuncia-se como um seu princípio fundamental o da “primazia da realidade”. Não fosse assim, a Justiça do Trabalho jamais poderia mandar indenizar trabalhadores reduzidos à condição análoga a de escravo: em boa parte dos casos, sequer há remuneração em moeda corrente (afinal, a CLT diz ser empregado somente aquele que trabalha “mediante salário”...). Existir ou não relação de emprego é questão que só se resolve à vista do caso concreto. Não seria diferente nos trabalhos religiosos.
Enfim, vale aqui, ainda uma vez, a máxima aristotélica da igualdade geométrica. Ou ─ o que é o mesmo ─ vale a máxima cristã (Mateus, 13, 30): por ocasião da ceifa, convém separar o joio do trigo.
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(*) Juiz titular da 1ª Vara do Trabalho de Taubaté/SP, é professor associado de Direito do Trabalho da USP. Presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 15ª Região
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(*)Por Guilherme Feliciano (*)